A CHAVE DO PENSAMENTO NA CIÊNCIA

Por Gilson Volpato

A ciência precisa tanto de minérios brutos quanto de pedras preciosas lapidadas. Porém, seu maior valor vem dessas pedras preciosas.
 

Vasculhar e apresentar fatos é interessante. Tê-los é necessário. Mas saber o que fazer com eles é essencial.
 

Compreender cientificamente o mundo envolve saber quais são suas partes e como são. Isso é cumprido pelas pesquisas de caracterização. O cientista caracteriza partes isoladas do mundo, como estruturas subatômicas, átomos, moléculas, substâncias, formas diversas de coisas do mundo, bem como sistemas complexos como clima, perfil etnográfico, político, sintomas, ideias das mais variadas e até relações etc.
 

Tais estudos de caracterização nos dizem o que é o mundo (parte estrutural de coisas materiais e conceituais), mas não como ele funciona.
 

Além disso, o cientista estuda as associações entre essas partes. Em sua raiz mais profunda, estuda dois tipos de associação. Uma delas são as associações que servem para identificar o comportamento de algo a partir da detecção de outra coisa à qual esteja associada.
 

Estuda também um tipo especial de associação, que é a que decorre da interferência de uma coisa sobre outra (num mundo de possibilidades de relações possíveis). Esses são os estudos de Intereferência.
 

Estudando essas associações, o cientista nos diz não apenas como é o mundo, mas como ele funciona.
 

Todo estudo de associação (admitindo ou não interferência entre as partes) implica a necessidade de se trabalhar com hipótese. Os estudos de caracterização de partes isoladas do mundo geralmente não requerem hipóteses (i.e., é besteira expressá-las, pois não ajudam em nada). Estudos de caracterização de sistemas podem envolver hipóteses, pois lidam também com caracterizações de relações. Todos esses estudos são e fazem ciência.
 

Todas as pesquisas científicas do mundo, sejam de quais áreas forem, desde que trabalhem com resultados (de quaisquer naturezas) visando conclusões, estão envolvidas num desses 3 tipos. O restante é fantasia.
 

É desse tripé que estruturamos projetos, conteúdos e formas de expressão e argumentações em artigos científicos. É a base lógica para a redação científica.
 

Tenho publicado essa essência (ponto de partida) em todos os meus livros, artigos e cursos que tratam da construção do conhecimento científico, sejam focados em redação científica ou não. A primeira foi já na década de 1980 e, em livro, em 1998. Desde então, as explicações foram ganhando em detalhes e clareza, mas a lógica tem sido a mesma.
 

Simples assim! Então, por que confundir tanto o ensino de ciência, de metodologia e de redação científica?

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