Sabiam que a palavra importante não é tão importante assim? Pois é!
Muitos já devem ter visto argumentações em que a premissa mais forte é dizer que algo é importante. O que significa dizer que algo é importante? Não significa nada! Afinal, a palavra importante não tem força para tornar qualquer coisa importante. Se ela tivesse essa força, bastaria dizer “eu sou importante”; pronto, virei uma pessoa importante. Sabemos que não é isso, obviamente.
Na argumentação científica, não basta dizer, é necessário demonstrar de alguma forma válida, sem recorrer a falácias lógicas. Nessa argumentação, a palavra importante não é algo que fundamenta, mas algo que precisa ser fundamentado. Coloque-a muito mais na condição de “conclusão” do que de “premissa”.
Entendo que o argumento da autoridade pode agir nisso. Se um laureado Nobel disser que algo é importante, uma multidão passará a aceitar que esse algo é importante. Isso é uma falácia lógica. E ela é ainda mais grave quando esse Nobel falar de algo que não está diretamente relacionado ao trabalho ou especialidade em que ganhou o Nobel. Cuidado, é comum muita gente famosa falar sobre qualquer outra coisa. Já perceberam, por exemplo, como certos ídolos de cinema, esporte ou outras modalidades podem ser eleitos na política? Então, nesse caso as qualidades que o tornaram ídolo podem não estar nada ligadas às qualidades necessárias para fazer um bom trabalho na política. O que quero reforçar é que o argumento da autoridade pode induzir pessoas a aceitarem conclusões apenas pela autoridade de quem fala, mesmo que essa autoridade venha de especialidade ou área distinta daquela que lhe deu genuinamente a autoridade.
Centremos, então, na questão da palavra importante. Ela é uma palavra vazia enquanto argumentação. Particularmente num texto científico, usá-la para provar a importância de algo é um erro ingênuo, mas que muitos ainda cometem, seja usando-a ou aceitando-a nessa argumentação. E o que fazer com a palavra importante?
Num texto científico, uma das características é que as argumentações tenham base sólida. Lógico que isso não está ligado ao ingênuo conceito de verdade absoluta, aquela que temos certeza que ultrapassará muitos milênios. Tal verdade, mesmo que logicamente faça sentido aceitarmos que exista tal verdade, não faz sentido acharmos que sabemos quais conhecimentos são desse tipo. Por essa razão, verdades absolutas não fazem parte da ciência. Com esse referencial, vamos analisar a questão da palavra importante num discurso científico.
Não é suficiente dizer que algo é importante para que seja considerado importante. É necessário demonstrar a importância. No texto científico, estamos falando a cientistas para submeter nossas argumentações a um crivo crítico especializado, na tentativa de evitarmos erros que a ciência pode corrigir no momento. Nesse contexto, ao afirmar que algo é importante, a pergunta imediata que surge é: Por quê?
Demonstrar a importância é algo necessário, pois então, uma vez demonstrada, ela passa a ser aceita como realmente importante, até que se provem o contrário. E como fazer isso?
Um erro comum em projetos de pesquisa e, algumas vezes, até mesmo em artigos científicos em revistas menos qualificadas, é o uso da palavra importante como premissa argumentativa. Lembre-se que as premissas de um argumento lógico são informações que devem ser consideradas verdadeiras para que, após avaliação lógica, possam sustentar as conclusões. Então, para usar a palavra importante como premissa, demonstre que ela é realmente importante. Vejamos.
Você deseja afirmar que caracterizar certa variável é importante. Então, pergunte-se: por que isso é importante? Tente imaginar que conhecer tal caracterização pode permitir avanços sobre o papel dessa variável num sistema mais complexo. Por exemplo, quando Watson & Crick caracterizaram a molécula de DNA, numa curtíssima publicação na revista Nature em 1953, eles facilitaram que muitas outras coisas sobre o funcionamento dessa molécula pudessem ser investigadas e descobertas. Não foi à toa que, em 2003, a comunidade científica comemorou o 50º aniversário dessa descoberta; afinal, ela abriu portas acelerando o conhecimento dessa molécula-chave para a vida.
Você também pode estar investigando hipóteses, onde tratará evidentemente da relação entre variáveis. Nesse caso, pergunte-se sobre qual a importância de se investigar determinada relação. O que isso trará de avanço, que problema solucionará, que portas abrirá? São essas respostas que servem de premissas para que concluamos que tal estudo é importante.
Se investigar relação de interferência entre variáveis, pense em qual será o ganho ao conhecer que determinada variável afeta outra. Evidentemente, a força disso reside na possibilidade de se controlar uma variável por meio do controle de outra, ou mesmo pela descoberta da causa de algum fenômeno ou processo que não se sabia qual a origem. E qual a importância de se conhecer tal origem? Simplesmente porque poderemos controlar tal efeito de acordo com nossos interesses (desde sua eliminação até exacerbação).
Caso investigue relação apenas de associação entre variáveis, sem que haja interferência entre elas, deve mostrar por que isso é importante. Do ponto de vista lógico, a importância desses estudos é que ao enxergarmos uma dessas variáveis, estaremos enxergando a outra. Quando isso é importante? Quando avistar uma delas seja necessário, mas muito difícil ou impossível de se realizar. Assim, encontrar variáveis que são fáceis de enxergarmos e que indiquem outra(s) que é(são) fácil(eis) de enxergar resolve o problema, o que lhe justifica a importância.
Na prática da redação científica, a recomendação que costumo dar é que é não diga que algo é importante. Melhor é mostrar com premissas válidas tal importância, deixando que o leitor conclua sobre essa importância. Porém, nada há de errado se você mesmo afirmar essa importância, seja depois de demonstrá-la ou antes, mas com demonstração incisiva.
Assim, não aceite apenas afirmativas vazias de que algo é importante. Afinal, isso é importante saber!!
IGVEC Daring to know!
Conheça um pouquinho mais do IGVEC através do video introdutório.