DO BALÉ À PROFISSIONALIZAÇÃO: essências da palestra de Luciana Sagioro

 

Tive uma experiência incrível no 39° Festival de Dança em Joinville. Primeiro direi alguns detalhes das expositoras e depois as essências dos conteúdos e porque foram fantásticos.

Assisti a um evento vip da bailarina Luciana Sagioro, na Escola de Teatro Bolshoi aqui em Joinville. Ela é a bailarina (16 anos) que ficou em 3o lugar no “Prix de Lausanne”, Montreux, Suíça, assim ganhando bolsa para estudar na Ópera de Paris (fato histórico para o Brasil). Foi um evento de sua despedida do Brasil.

Inicialmente foi um papo da mãe dela (Ana Lívia) com a Diretora e proprietária da Cia Petite Danse, local onde Luciana estudou na cidade do Rio de Janeiro. Depois Luciana apresentou duas das danças da competição na Suíça e, ao final, fez a sua palestra. Segundo Luciana, esta foi sua primeira palestra, mas senti que, de longe, foi muito superior a muitas das aulas e palestras que já assisti nos últimos 48 anos. Dominava a fala como quem teve, de base, boa preparação no idioma, na lógica e no estado emocional.

O evento tinha cerca de 150 pessoas (capacidade do local) que adquiriram os ingressos antecipadamente. Ao terminar, Luciana tirou foto individual com cada um dos presentes, mostrando que estrelismo é coisa de quem não é Estrela.

As falas (de Luciana e de sua mãe) foram para mostrar particularidades pessoais importantes no caminhar de Luciana a uma conquista única do balé brasileiro. Foram falas muito além do balé, válidas para quaisquer profissionais! Acho que pouquíssimos do público esperavam esse conteúdo. Aqui frisarei pontos centrais e muito enfatizados por elas. Saliento que Luciana não é filha única, mas foi a única que se interessou pelo balé e desde cedo.

 

A MÃE DE LUCIANA ENFATIZOU OS SEGUINTES PONTOS

 

a) O respeito dos pais ao desejo da filha sobre o sonho de seguir balé.

b) A importância dessa escolha ser da filha e não uma projeção de desejos dos pais.

c) A importância dos pais confiarem na formação familiar que deram à Luciana, a ponto de envia-la, ainda na pré-adolescência, de Juiz de Fora para uma escola de Ballet no RJ (onde morou sozinha).

d) O respeito e confiança na Cia de balé do RJ, simplesmente sem intervir, apenas confiando nos profissionais da escola, sem interferir.

e) A excepcional autonomia de Luciana para as responsabilidades necessárias, frisando, por ex., que se a filha esquecesse uma sapatilha, a mãe não levaria para ela, pois ela tinha que enfrentar o fato de ter esquecido (isso não era imposição de castigo da família, mas um requisito que a própria Luciana queria). Ela fazia praticamente tudo sozinha, pois o sonho era dela. [Ficará mais claro quando lerem abaixo os itens de Luciana].

f) Um ponto ressaltado pela diretora da Cia Petite Danse foi que o foco era treinar as alunas e só colocá-las nas competições ou apresentações quando estivessem capacitadas para isso. Algumas levaram anos para participarem de algo. As aulas e os treinos eram fundamentais. [Eu vejo que hoje muitos profissionais querem “fazer” muito antes de aprender as bases necessárias, o que leva a superficialidade.]

 

Eu vi na fala da mãe uma excelente aula, principalmente para aqueles envolvidos com Educação. Sei que estamos tratando de um caso excepcional, mas aprender com os melhores é também um ato de humildade e inteligência.

 

AGORA, SOBRE A PALESTRA DE LUCIANA

 

a) Foi incrível a qualidade de expressão dela (capacidade de raciocínio e expressão oral e corporal). Foi típica de quem encara tudo o que faz com altíssimo grau de profissionalismo. Foi uma fala informal e ela disse que era sua primeira palestra, mas que ficou mais tranquila porque era para contar da vida dela, que ela conhecia muito bem (afinal, teve a chance de fazer terapias e aconselhou a todos, que tenham essa possibilidade, a fazerem, pois traz um autoconhecimento incrível). [Eu transponho isso para uma realidade de novatos se intitulando de palestrantes, coaches e similares].

b) Sempre mostrou muita gratidão pelos diversos apoios que recebeu, desde seu primeiro professor (ou professora) de balé e todos à volta.

c) Frisou a importância de reconhecer suas conquistas e também seus fracassos. 

d) Contou como percebeu a importância de distinguir a forma como as pessoas se expressam e o conteúdo do que expressam. Citou uma professora que a corrigia com falas mais ríspidas e um professor que era todo dócil; mas mostrou com exemplo como eles diziam a mesma coisa ao apontar o erro, mas com tons e palavras diferentes. Então, disse que ela entendia as diferentes formas, mas se apegava ao conteúdo da correção e se corrigia. [Eu digo que isso mostra uma maturidade típica dos excepcionais].

e) Falou da importância do sonho. Deixou até uma bela frase no final (“Nada é tão nosso quanto nossos sonhos”). Mas foi muito além (vejam itens a seguir).

f) Mostrou de forma claríssima a importância de termos um sonho que guiará nossa vida, mesmo que ele venha a mudar. Agregou a isso o processo administrativo para se atingir o sonho. Explicou que devemos estabelecer metas (que exigem prazos) que serão degraus para atingirmos os sonhos. Mostrou exemplos disso em seu caminhar. Disse que os ajustes poderão ser necessários (citou o exemplo da inesperada e imprevisível pandemia que vivemos), mas o sonho final nos mantém na linha. [Pergunte quantos dos nossos alunos e profissionais seguem os sonhos, sabem como administra-lós e conviver com os ajustes necessários].

g) Mostrou como se comportar na longa escada que subimos degrau por degrau até o grande sonho. Disse que temos que festejar cada conquista (degrau) pelo que representou. Viver aquele momento. Mas saber que é um momento que foi superado e focar agora no próximo degrau.

h) Enfatizou a importância de aprender com quem sabe mais, convivendo com essas pessoas. Porém, não esquecer de ajudar quem está abaixo. Mostrou um exemplo claro. Ela, uma vez conquistado um degrau acima, abriu mão de competir mais abaixo pela percepção de que, se ganhasse, estaria apenas atrapalhando o sonho de quem precisasse daquele lugar naquele momento. O caminhar dela agora era o passo seguinte. [Ou seja, não interessa juntar quilos de troféus, mas conquistar os que são nossos degraus no conjunto de metas estabelecidas rumo ao grande sonho].

i) Falou da importância do meio em que está. Ele pode ser diversificado, mas você deve focar o aprendizado olhando e aprendendo com quem está acima de você. 

j) Ela demonstrou, em suas falas, como o controle emocional, ajudado grandemente por ter feito terapias, é fundamental, pois no Ballet é uma difícil e muito competitiva. Ela também deixou transparecer o quanto a competição dela é com ela mesma em direção ao sonho que ela, mais ninguém, traçou (revelam a frase dela no item “e”). [Ou seja, aprender o que é competição sadia é fundamental].

 

Enfim, mesmo podendo ter me esquecido alguns pontos, acredito que a essência foi essa.

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