FORMAÇÃO DE CIENTISTAS

Numa defesa de Doutorado, o fundamental não é o trabalho científico em si, mas quanto o candidato aprendeu do processo científico. Afinal, espera-se que aquele que aprenda bem o raciocínio científico traga, ao longo da carreira, as melhores explicações científicas daquilo que a ciência consegue estudar. São dessas explicações, mas não apenas delas, que o ser humano se nutre para ter chance de melhor se ajustar no mundo.

Uma forma óbvia dessa análise nas defesas de tese é a arguição que se faz do aluno. Porém, bancas tecnicistas focam fundamentalmente na capacidade técnica do trabalho realizado.

Esse foco técnico é insuficiente para avaliar a capacidade científica. Afinal, a ciência começa depois da pesquisa, embora saber escolher e realizar a pesquisa adequada já seja um rudimento do cientista. Com isso, mesmo a publicação de artigos em revistas de ótima qualidade internacional não garante a relevância cientifica da pessoa no futuro. Já ouviram falar de cantores de uma música só?

Quando a estrutura de pensamento científico do aluno é forte, ele repirará ciência em seu dia a dia, o que aumenta suas chances de produzir melhor ciência no futuro. Aumenta sua capacidade e plasticidade para enfrentar os costumeiros ambientes hostis a cientistas.

A defesa de tese não é um oráculo sobre os futuros cientistas, mas um momento importante para detecção dos acertos e erros que têm chance de influir no desenvolvimento dessas pessoas na ciência. Cabe à banca fazer a melhor avaliação, pois os aprovados serão entregues à sociedade autorizados a falar em nome da ciência. E o quanto conhecem de ciência? Basta fazer uma tese para virar cientista? Essa talvez seja a maior lacuna em nossa pos-graduação.

Curiosidade, crítica, perseverança, responsabilidade, honestidade e tantas outras qualificações que atribuímos ao cientista não garantem qualidade científica. Embora necessárias, são genéricas a quase todos os profissionais de uma sociedade. É fundamental conhecer as entranhas dos processos lógicos, filosóficos, metodológicos e comunicacionais da ciência que sustentam o debate dos principais cientistas no meio internacional.

Antigamente, a defesa de tese era evento notório e nem pós-graduação havia. Nas últimas décadas, entrou na nossa rotina escolar e beira mais a evento social do que debate científico de alto nível. Doutor é quem tem plena autonomia na ciência e não apenas na especialidade.

Com isso, formamos exércitos de especialistas em executar pesquisas, mas poucos preparados para debates que extrapolam as técnicas e conhecimentos da especialidade. Porém, como essa lacuna não é reconhecida, em nome da ciência trazem opiniões caseiras espalhando mais desinformações do que conhecimento científico.

Está nas mãos de quem a melhora do sistema de pós-graduação? Nas mãos dos orientadores. Infelizmente, os órgãos centrais de controle já gastaram mais que o suficiente para manterem o insuficiente. A alternativa só pode ser outra.

 

[Texto originalmente publicado no LinkedIn de Gilson Volpato]

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