MUITO ALÉM DO TOPO

Universidade forte, em país fraco, não basta estar no topo, entre as boas do mundo. É necessário olhar para suas coirmãs e buscar, acima de tudo, redistribuir competências.

As competências universitárias que temos são mais sinais de desigualdade. Se assemelham às desigualdades econômicas, culturais e de oportunidades.

Um pais não se constrói com picos de excelência em meio a uma imensidão de equívocos e até incompetências. É necessário que os picos sejam incisivos para fortalecimento das demais. Exceções temos suficientes.

A pirâmide das desigualdades se repete entre nossas universidades, faculdades e escolas em geral. Isso potencializa desigualdades sociais. Quem, no setor público, aprendeu caminhos para melhores desempenhos tem obrigação de contribuir com coirmãs públicas. Não basta receber pós-graduandos e devolver pós-graduados para os setores mais carentes. É necessário programas de maior capilaridade e de ações mais efetivas, inclusive administrativamente. Infelizmente, o comum é serem concorrentes.

De que vale a hipertrofia de algumas regiões (por ex., SP ou região SE), ou mesmo hipertrofia de uma dezena de Universidades de Excelência, se isso efetivamente não alavanca outras IESs.

Sei que há avanços e já participei de tais programas. A questão é a timidez, a lentidão e o pouco alcance desses programas. É como chegar na periferia e oferecer uma ajuda para mudar a 3a ou 4a geração. Rapidez é essencial.

Formamos muitos na pós-graduação. Poucos são os que dedicam a vida em locais mais inóspitos para ciência e educação. Colocar 10 excelências num campus com centenas de docentes carentes de boa formação não tem resolvido. Geralmente se tornam picos de (quase) excelência, nada mais.

A defasagem de conhecimento e de competência fica cada vez maior. Lógico, todos se acham competentes e talvez isso já seja indicador de incompetência.

As parcerias entre universidades devem focar mais a formação de pessoas com espírito universitário e menos nas conquistas produtivistas individuais.

Quando, após minha aposentadoria, montamos uma instituição de educação científica, sabíamos que ela não podia rezar nas normas do MEC e derivados, bem como ficar na tênue vontade de reitorias (são inconstantes).

Seja como for, precisamos urgentemente de programas de reciclagem contínua para reduzir desigualdades educacionais entre docentes. Isso envolve, inclusive, reduzir diferenças entre áreas. Não dá mais para ficar desculpando certas áreas porque sabemos que alí a ciência é fraca. Se é fraca, torne-se forte, pois é necessidade social.

Podem dizer: os governos não têm ajudado. E eu digo: não espere de governos. Temos IESs que podem fazer uma revolução imensa, particularmente aquelas que têm total autonomia financeira, administrativa, científica e educacional. Professores universitários (públicos) sabem a autonomia que têm. Muitas das travas são criadas pelas próprias IESs; i.e., pelos próprios docente, agora gestores e administradores.

 

[Texto originalmente publicado no LinkedIn de Gilson Volpato]

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