O CAMINHO DE EMERSON PARA A CIÊNCIA

Por Gilson Volpato

 

Nosso aluno de IC era Emerson. Certa vez, dissemos a ele que deveria começar a pensar nos temas que mais lhe atrai para melhor se nortear em uma possível especialização no futuro. Emerson fez isso.

Já no mestrado, ele conseguiu escolher conosco uma tese num tema que admirava muito. Se sentia motivado pela liberdade de estudar o que gostava e que poderia contribuir com a humanidade por meio de seus estudos, no mínimo solucionando dúvidas das pessoas. Conforme caminhava no mestrado, inquietações sobre publicações, currículos e do “ser cientista” continuavam a incomodá-lo. Participou de grupos de ciência em mídias sociais, mas traziam mais problemas do que soluções (ou tantas soluções que viravam problema).

Percebemos que ele começava a fazer escolhas estranhas, equivocadas segundo os melhores referenciais de ciência. Isso nos preocupou e precisamos conversar mais profundamente sobre esse caminho.

Suas neuras começavam por achar que seus fins de semana eram inegociáveis e pertenciam ao seu laser. Essa foi fácil resolver, pois logo lhe questionamos o valor lúdico do trabalho que amamos e da diferença quando esse trabalho faz parte do nosso ideal. Logo ele percebeu que, por ser cientista, os referenciais de trabalho eram outros. Estava mais para aquele do artista movido pela paixão, sem perder responsabilidade, do que daquele que está num emprego tradicional com demandas externas e patrões na cabeça.

No entanto, a principal preocupação era sobre os referenciais para ciência. Primeiro, aquele eterno equívoco entre básico e aplicado, supondo que a função social do cientista é sair pelas ruas com o método científico nas mãos e ir resolvendo cada problema localizado da população. Esse método pode fazer isso em vários casos, mas não é essa a maior contribuição social da ciência. Percebemos que faltava a Emerson maior profundidade em seus estudos sobre ciência. Afinal, nem todas as falácias são fáceis de se perceber como falaciosas.

Assim, inicialmente pedimos que Emerson investigasse como os cientistas mais reconhecidos internacionalmente em suas áreas expressavam ciência. Orientamos em quais níveis de revistas deveria olhar e como encontrar os principais cientistas de cada especialidade a ser consultada. Alertamos que não se preocupasse com detalhes dos conteúdos, mas principalmente nas questões mais gerais que espelhavam o pensamento de ciência. Mostramos alguns exemplos de como fazer isso em outras áreas. Ele também concordou que, por mais que a Filosofia seja importante para a ciência, não podemos ignorar o que os principais cientistas estão fazendo e pensando sobre ciência. Afinal, o filósofo não participa dessa prática e a ciência que existe e funciona vem principalmente desses cientistas. E assim Emerson prosseguiu.

No início do doutorado, já estava com uma visão mais ampla e fundamentada sobre qual ciência percorria os principais meios internacionais de ciência. Percebeu também que, mesmo assim, nem tudo era adequado. Certa vez, ele disse: "Achei que estava sendo prepotente por julgar filósofos e cientistas, seres tão estudiosos e inteligentes, mas a conversa entre lógica e prática é impressionante.”

Emerson conseguiu muito bem interagir seus estudos de Filosofia (Lógica, Ética e demais direcionados à Ciência) com a Metodologia Científica, a Comunicação e a Prática da pesquisa no melhor cenário internacional. Na defesa de seu doutorado, o que mais impressionou foi como ele não apenas argumentava sobre a sua Tese, usando seus procedimentos da pesquisa, seus resultados e literatura necessária, mas pela forma natural como encaixava os sete pilares teóricos da Ciência nessa conversa. Sabemos que, nesse setor, não é difícil impressionar examinadores em bancas de defesa de tese, pois não é parte generalizada da nossa cultura que essas defesas sejam defesas de argumentos e conclusões dentro de um escopo mais genérico de ciência.

Foi conversando com seus colegas e professores, ao longo de seu final de doutorado e no pós-doutoramento, que Emerson percebeu esse triste pano de fundo. Jurou atuar nisso e aí percebeu mais um ponto a favor do conceito de Cientista Educador. Mas lhe dissemos que isso não significava ser um Cientista Professor... e ele sai a campo para entender o que isso significava. Esse era o diferencial de Emerson... ele sabia que podia ensinar e também sabia que precisava aprender e não se esquivava de ir atrás de conhecimento.

Esse foi Emerson... um nome fictício para uma história fictícia.

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