QUE METODOLOGIA É ESSA?

QUE METODOLOGIA É ESSA?

Gilson L. Volpato - 24/07/2021

 

O ensino de Metodologia Científica (MC) deveria ser matéria obrigatória no ensino superior. Porém, antes disso, deve ser profundamente modificado, inclusive com oferta de aperfeiçoamentos a professores dessa matéria. A MC deve ensinar o raciocínio científico, estrutura cognitiva fundamental a esses profissionais, venham ou não a se engajar na vida acadêmica científica.

Segundo entendo, todo semestre deveria haver disciplina teórico-prática de MC, em nível crescente de complexidade. Seria fundamental para avaliar quaisquer tipos de resultados, ter posturas sociais e epistemológicas condizentes, humildade, boa argumentação, ausência de preconceitos, compromisso com a honestidade e muitas outras características importantes da ciência.

Porém, qualquer disciplina não surtirá efeito direcionador se não houver exigência avaliatória proporcional à importância da disciplina. Esse é o principal gargalo a ser vencido! Do contrário, vira mais uma disciplina desprestigiada que só servirá para depor contra sua importância para a formação profissional. Além disso, deve ser teórico-prática, pois terá mais chance de mostrar aos iniciantes da graduação porque essa disciplina pode mudar a sua vida. Óbvio, os professores devem ter essa vivência prática e não apenas expor teorias e elucubrações epistemológicas sobre o processo metodológico. Devem representar a ciência na prática, que é o que melhor sustenta a importância desse processo criado pela humanidade.

Para isso, gostaria que houvesse uma rede de educadores de MC, conectados para apoio mútuo, contrastando “ousados” com “conservadores”. É lamentável o que fizeram com a MC aqui no Brasil. A obrigatoriedade de TCC e a opção de que seja voltado para a ciência vêm destruindo o ensino de ciência neste país, pois há muitas pessoas que não exercem ciência tentando ensinar ciência. Com essa lacuna, se apoiam num ou noutro filósofo, que também nunca fez ciência, e passam o que esse perfil de literatura incentiva. Infelizmente, MC não é tão simples assim.

Lembro que, para melhor abordar a MC, é conveniente que a pessoa seja cientista (não apenas pesquisadora) com boa experiência prática em publicações em nível internacional, além de conhecer as bases filosóficas da ciência que é praticada nesse cenário internacional. Sei que isso não é pedir pouco, mas é pedir o necessário. Afinal, estamos lidando com a formação de pessoas que sonham em serem excelentes profissionais. Estudar e praticar nunca será demais.

Os substratos da metodologia devem ser extraídos das bases conceituais, mas necessariamente contrastados com a metodologia que se exerce na ciência (não apenas numa área ou especialidade, pois isso encerra mais vícios do que processos lógicos e epistemológicos válidos). Essa ciência está publicada nas principais revistas científicas de nível internacional. O que significa isso? Significam as revistas que vêm publicando artigos de vários países (de várias dezenas a cerca de duas centenas), as quais são citadas por autores de vários países (idem referencial anterior) e nas quais encontramos artigos de autores internacionalmente reconhecidos em suas especialidades.

O que vemos hoje é muito mais uma busca de propostas metodológicas que mais valem para confirmar conceitos e procedimentos que gostaríamos que fossem verdadeiros. São condutas que visam estimular nosso ego, mas que pouco acrescentam aos aprendizes do processo metodológico da ciência. Se buscarmos a fundo, na diversidade de propostas espalhadas pelas revistas científicas dos mais diversos níveis, das piores às melhores, justificaremos o que quisermos. Esse não é o procedimento que devemos esperar de bons professores e cientistas. A pseudociência tem se valido dessas abordagens metodológicas falaciosas, sem controles onde eles facilmente poderiam estar presentes, mas defendidas por elucubrações metodológicas que convencem quem não conhece ciência de alto nível. Lembro que sempre haverá alguma filosofia para sustentar a vasta maioria de opiniões que se queiram transformar em verdades científicas. Toda a atenção é pouca. E o ensino da MC não deve reforçar esses equívocos, mas mostrar mais profundamente porque são equívocos e como evitá-los.

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